17 janeiro, 2011

O prazer da vida - Kahlil Gibran


O prazer é uma canção de liberdade,

Mas não é a própria liberdade.

É o despontar dos teus desejos,

Mas não o seu fruto.

É um abismo a clamar pelo céu,

Mas não é nem o abismo nem o céu.

É a ave enjaulada a voar em liberdade,

Mas não é o espaço que ela percorre.

Na verdade, o prazer é uma canção de liberdade.

Gostava que a cantasses com todo o teu coração,

Mas não quero que percas o coração ao cantá-la.

Alguns jovens buscam o prazer como se fosse tudo na vida,

E, por isso, são julgados e repreendidos.

Eu não os julgo nem os repreendo.

Prefiro dizer-lhes que partam em busca.

Não ouviste falar do homem que estava a cavar a terra

Á procura de raízes e encontrou um tesouro?

Alguns anciãos recordam os seus prazeres com remorsos,

Como se fossem erros cometidos durante a embriaguez.

Deviam recordar os seus prazeres com gratidão,

Como quem recorda as colheitas de Verão.

Os que não buscam nem recordam temem o prazer,

Pois pensam que lhes irá prejudicar o espírito.

O teu corpo conhece a sua herança

E as suas necessidades, e não se deixará enganar.

E o teu corpo é a harpa da tua alma;

Pertence-te e cabe-te a ti criar

Uma doce música ou sons confusos.

E agora perguntas, no teu coração:

"Como poderei distinguir o que é bom

do que é mau no prazer?"

Vai para os campos e jardins e verás

Que a abelha tem prazer em tirar o mel da flor,

Mas também se deleita a flor

Ao dar o seu mel à abelha.

Para a abelha, a flor é uma fonte de vida,

E, para a flor, a abelha é a mensageira do amor.

E tanto para a abelha como para a flor,

Dar e receber prazer é tanto uma necessidade

Como um êxtase.

Portanto, no prazer, sê como a abelha e a flor.










Essa não é uma mensagem espírita - é de Gibran Khalil Gibran, poeta libanês.



Gibran Khalil Gibran nasceu no Líbano no final do século XIX, terra então dominada pelo Império Turco Otomano, há milênios conturbada e há milênios preocupada com o fenômeno filosófico e religioso. Com o crescimento do perigo fascista para a região, lá conhecido como sionismo, mudou-se para os EUA, ali radicando-se desde o início do século passado (caramba, somos todos do século passado!) e tornando-se uma das principais referências intelectuais para o conhecimento da alma do povo muçulmano, druso, maronita ou cristão ortodoxo em geral, libaneses em particular. Aos 14 para 15 anos tornei-me leitor ávido de sua obra, mais ou menos como os jovens hoje lêem Senhor dos Anéis ou Harry Potter, com a enorme vantagem, a meu juízo, de os escritos de Gibran trazerem sempre alguma mensagem importante para nós, algo que nos marca o horizonte existencial por toda uma (ou mais) existência! Ultimamente tenho estado mais propenso a reflexões perenes que as superficiais, políticas... Reproduzo, a título mesmo de isca, textos de três de suas obras mais admiráveis: O Louco, O Profeta e Temporais.

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